É tarde, a casa está vazia, nem vizinhos há para me fazer sentir a presença de alguém. O silêncio reina e toma conta de um corpo sozinho. Sentada no sofá observo lentamente o que está à minha frente e vou passeando num passado recente. Dou pequenos passos num caminho que se construiu tão rápido. Vejo laços soltos, muros que ruiram, pontes que surgiram. Tenho sede, a garganta demasiado seca para proferir uma palavra que seja. Bebo sofregamente dando água a um corpo seco, a um corpo vazio, a um corpo sozinho. O copo cai, parte e quebra-se o silêncio. É tarde e eu quero um corpo quente que aqueça este corpo sozinho e gelado. É tarde e quero companhia. A campainha soa e a companhia chega. Esperei tanto por ti, desejei tanto ter-te aqui. Fica por esta noite e a próxima também. Empresta-me os teus braços para que possa fazer deles a concha onde me fecho, o esconderijo onde só tu me vês, o refúgio que busco incessantemente. Empresta-me os teus braços, eu emprestar-te-ei os meus. É tarde e eu sinto este corpo não tão vazio aquecer lentamente. Vou deixando que o calor me embale devagar, vou deixando que o sono tome conta de mim. Era tarde, a casa estava vazia, o corpo sozinho...Obrigada por teres vindo.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
No sentido Porto para um Porto sentido
O cinzento do céu e a frieza do tempo que se faz sentir neste dia de Novembro dissipam-se com o rasgar de um sorriso e de um cumprimento caloroso. Se ao inclinar a cabeça o ar é bucólico, uma ligeira observação prende a minha atenção para me lembrar que, apesar do céu cinzento, cor é o que não falta. São cores quentes aquelas das pequenas construções empilhadas junto ao rio. Amarelo, azul, vermelho vestem uma paisagem urbana forte, ímpar.
Um pregão que soa, vozes mais altas que impossibilitam o silêncio.
Por altura de verões quentes a agitação reinava, hoje, ainda que menos movimentada por passantes deslumbrados, a cidade permanece com o mesmo sorriso rasgado, com o mesmo cumprimento caloroso.
A pronúncia acentuada, por vezes rude, trepida de cada rua, cada beco, cada recanto desta cidade, lembrando que a língua, como a gente, é vincada.
Dou por mim de corpo e pensamentos inertes, apenas extasiada pelos sorrisos, pelo cumprimento caloroso, pelas cores, pelo pregão e vozes que soam mais alto, pela pronúncia da cidade.
Sentada nesta margem vou bebendo em pequenos tragos, como se de um cálice de vinho fino se tratasse, cada pedaço deste pedaço de terra. Sentada nesta margem, vou ouvindo histórias, aquelas que o rio me quer contar.
Foto: da autora
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Quando o telefone toca
sábado, 20 de agosto de 2011
Fazer nós é fácil. Difícil é desfazê-los.
Uns de marinheiro, outros simples.
Nós bonitos, nós feios.
Nós que necessitamos cortar com utensílios afiados.
Nós na cabeça, nós no estômago.
Nós poderosos, que não se quebram.
Nós que se desfazem com o passar dos anos, cordas que apodrecem.
Nós que queremos ver desfeitos.
Nós que queremos ver eternos.
Nós fortes. Nós fracos.
Nós, humanos.
domingo, 29 de maio de 2011
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Most things never happen...
(...)
Há quem diga que nem tudo é culpa dos outros. Uma parte poderia vir de mim. Também neste caso há um argumento que vale a pena ter em conta. Larkin bem lembrou que "most things never happen...". O problema é exactamente esse: é indiferente que as coisas sejam boas ou más. A tragédia é que não acontecem. E não se sabe porquê. A minha ansiedade é uma consequência, não é uma causa."
Maria Filomena Mónica