Estás por todo o lado e eu não te consigo expulsar. Estás aqui, a toda a hora, e eu não te consigo
expulsar. Estás na mesa de cabeceira, naquele livro que deixei a meio por
estares lá dentro. Estás na gaveta da secretária por entre papéis e lembranças.
Estás nas músicas, nos filmes, na televisão... Invades as minhas noites, acordas-me e desapareces.
Até do meu cérebro tomaste conta, agora digo o teu nome sem o querer fazer.
Estás por todo o lado e eu não te consigo expulsar. Tenho deixado a porta
sempre aberta e tu vais entrando, assim, de mansinho e eu lá te vou deixando
ficar até quereres partir novamente. Deixo-a aberta e quando sais ficas entranhado no meu espaço. Deixo-a aberta e tu nem te despedes antes de ir
embora. Ultimamente tenho-a deixado encostada, reparaste? Hoje vou fechá-la. De
que serve manter a porta aberta para alguém que não quer entrar e ficar? De que
serve manter a porta aberta para quem procura uma outra? Hoje vou fechá-la, porque mais vale sofrer por não ter do que ter e não ter. Estás por todo o lado
e eu não te consigo expulsar. Hoje vou fechar a porta e deixar que o vento areje o meu espaço. Hoje vou fechar a porta e deitar a chave fora.
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