Sr inquilino,
Compreendo
que os compartimentos sejam grandes e o espaço confortável. Sei que se trata de
um lugar seguro, reconfortante, quente mas parece-me pouco justo que não pague
a sua renda. Seis meses! Foram seis meses sem pagar renda. Os tempos são
difíceis, sei que a sua situação atual não é a melhor mas como deve entender a
minha também começa a deteriorar-se em detrimento da sua. Tenho todo o gosto que
seja meu inquilino, é cuidadoso, simpático, amável, há alturas em que faz algum barulho
mas nada de muito grave a apontar-lhe. Há uns dias pagou parte da renda mas eu
preciso da totalidade.
Sabe, os tempos também estão difíceis para mim. Agora
não consigo pagar os estragos que fez durante estes meses. Quem vai pagar a
despesa da pintura? A luz não funciona, está tudo escuro, estou em crer que estragou
a rede elétrica. Já agora, não devia ter colocado a música tão alta. Andou a
dar-me música estes meses todos e eu a pensar que era um bom inquilino.
Tudo
isto me leva a pedir-lhe que arrume tudo o que tem, música, sofá, cama, objetos
e saia imediatamente. Aproveite e leve também os seus sonhos e as promessas de
pagamento de rendas em atraso. Leve tudo e se um dia pensar em voltar,
certifique-se que vai conseguir pagar a renda. Prometo não cobrar-lhe os juros
mas pelos menos pague o que é devido, o que é justo. Afinal, creio não ter
falhado como senhoria.
Assim que sair
encoste só a porta, pelo barulho ensurdecedor que ouvi no outro dia já não deve
fechar muito bem. É a primeira coisa que vou fazer quando sair, compor a porta,
aproveito e mudo-lhe a fechadura. Sabe, apetecia-me vender este “espaço” confortável, confesso, mas não posso viver sem ele, afinal é ele quem bombeia o meu sangue e me
permite estar aqui. Talvez o próximo inquilino seja mais cuidoso. Para já, fica
em manutenção.
Obrigada!
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