Estás e não
estás. E nesta correria de que a vida é feita, estiveste e agora já só vais
estando. Afinal onde estarás? Continuas ali, bem perto, na mesa de cabeceira
onde te deixei, na página onde parei de te ler. Estás e não estás porque os
meus dias já não se questionam onde estarás. Continuas na fotografia que
encontrei hoje, por acaso, e que não tive coragem de apagar. Não se apaga a
harmonia, vais continuar lá. Já não estás no bilhete que eu guardava tão
religiosamente. Perdi-te no meio desta mudança que se inscreveu na minha história. Já não estás nas ruas porque as minhas ruas são outras. Já não estás
na parafernália da noite boémia porque as minhas noites deram lugar à calmaria
do sofá e do chocolate quente solitário. Estás porque, queira ou não queira, um
dia estiveste. Não estás porque já não interrompes o meu sono nem me sussurras
ao ouvido aquele “fazes-me bem” intermitente . Estás e não estás. E nesta
correria de que a vida é feita, já só vais estando. Amanhã vou abrir-te na
página onde te deixei e ler-te até ao fim. Amanhã vais deixar de estar na mesa
de cabeceira. Amanhã vou arrumar-te num sítio que não doa.
Sem comentários:
Enviar um comentário