sábado, 21 de julho de 2012

Gosto mais de ti no inverno


Gosto mais de ti no inverno. É estranho, não é que agora, que os dias quentes voltaram, não goste de ti, eu gosto mas gosto ainda mais no inverno. Fazes sentir-me protegida quando o gelo percorre o meu corpo, um corpo onde o sangue parece não circular. Gosto mais de ti no inverno. Não me deixas perdida na cama, envolves-me e encaixas-me no teu corpo como se fossemos duas peças perfeitas. Afagas-me o cabelo de forma ternurenta e esperas até ouvir a respiração tranquila, característica do meu adormecer. Embalas-me num doce “gosto de gostar de ti” sussurrado ao ouvido, e também tu adormeces. 
Gosto mais de ti no inverno, quando acordas e me fazes aquele café de cheiro inconfundível. Adoro o teu café no inverno, desperta o meu corpo simplesmente através das minhas narinas. Gosto mais de ti no inverno, quando fazes aquele jogo de pés que prendem os meus nos teus até que aqueçam. É doloroso mas faz-te sentir um herói, eu sei que sim! Gosto quando acordamos e voltas a envolver-me nos teus braços, “vamos ficar só mais um bocadinho, está frio...”.

Gosto de ti todos os dias, o ano inteiro, tu sabes...mas gosto mais no inverno. 

sábado, 14 de julho de 2012

Papéis que são lembranças


Arrumações. Ando a adiá-las há tanto tempo que entretanto mais livros, cadernos, folhas soltas e pacotes de açúcar se foram empilhando. Inicio o processo de organização com entusiasmo. Na verdade, entusiasmo-me sempre que tenho em mente o produto final, sei que vai ficar como eu quero, sei que o meu perfeccionismo deixará quem por cá passar atónito. Sou minuciosa na grande parte das tarefas que me dão gozo executar ,chego mesmo a irritar os meus amigos mais “turbulentos” e sem paciência para o cuidado com que o faço. Gosto de coleccionar informações, e não sabendo muito bem o que fazer com elas vou deixando que se amontoem nos meus dossiers, na mesa e na estante do meu quarto. A olho nu não há nada para arrumar, mas é apenas a olho nu. Hoje é o dia! Papéis e mais papéis começam a multiplicar-se. 

Arrumações! Mas o que raio me deu para adiá-las durante tanto tempo?! Um envelope surge no meio de um livro e com ele mergulho nas lembranças que nestes seis anos foram completando a minha história. “De: Príncipe Encantado contigo” – que lamechice é esta que me conseguiu arrancar uma risada? À medida que vou correndo a carta, que tão carinhosamente me foi escrita, vou reconstruindo o percurso que me trouxe até aqui.

Pedaços de papel soltos por entre fotografias e bilhetes de teatro vão aparecendo e produzindo uma rápida analepse. A foto do primeiro jantar da Serenata, aquele em que todos temos cara de miúdos (alguns com sinais evidentes de adolescência tardia), em que parecemos um cordão impossível de quebrar. Ah! Aconteceu tanta coisa até então...

Bilhetes e mais bilhetes. De cinema, teatro, avião, autocarro, comboio de cidades e países diferentes. Barcelona! Aquela cidade fantástica! Entramos no museu de Arte da Catalunha praticamente de borla.

As pétalas e os pacotes de açúcar que coleccionei não sei bem com que fim mas que acabaram por forrar a agenda de 2010, que tantas vezes fez as delícias de colegas de turma entediados nas aulas de Património Cultural. Por entre pétalas vou seguindo viagem, em pequenos textos sentidos e guardanapos, daqueles fininhos das pastelarias, com frases curtas mas que produziram sorrisos em tardes de estudo, sempre assinados com o mesmo smile, o de óculos! 
“Olha para ti...ainda há princesas” 2 de Junho de 2008 Margarida. A Mimi deixou a tampinha do iogurte (aqueles que também tinham frases carinhosas) no meu quarto, na noite do meu aniversário.

A foto da serenata com a Mané - “que este rico par de jarras nunca se quebre!” - e não é que está intacto?! Mais pacotes de açúcar e mais uns “recados” que, desta vez,  provocam uma lágrima que acaba por morrer no sorriso, os da minha mãe. Escrevia-me quando foi embora, para me lembrar que apesar da distância o que nos une é demasiado forte para ser quebrado por simples fronteiras. 

Um outro, talvez o mais recente, escrito em inglês, numa caligrafia imperceptível à primeira vista mas bonito. Simples e bonito. Lembro-me de me ter surpreendido ao vê-lo a primeira vez. “Don’t run away again (...)”. Estou aqui, bem aqui. Estou aqui onde há seis anos atrás isso era apenas um desejo, uma ânsia e uma vontade que, até hoje, não sei justificar. Estou aqui, onde eu queria estar. Estou aqui, onde as arrumações que ando a adiar há tanto tempo me fizeram viajar. Estou aqui e vou guardar tudo novamente mas de forma ordeira...os papéis e as lembranças, que tanto gosto de coleccionar.