quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Carta a um inquilino


Sr inquilino, 

Compreendo que os compartimentos sejam grandes e o espaço confortável. Sei que se trata de um lugar seguro, reconfortante, quente mas parece-me pouco justo que não pague a sua renda. Seis meses! Foram seis meses sem pagar renda. Os tempos são difíceis, sei que a sua situação atual não é a melhor mas como deve entender a minha também começa a deteriorar-se em detrimento da sua. Tenho todo o gosto que seja meu inquilino, é cuidadoso, simpático, amável, há alturas em que faz algum barulho mas nada de muito grave a apontar-lhe. Há uns dias pagou parte da renda mas eu preciso da totalidade. 

Sabe, os tempos também estão difíceis para mim. Agora não consigo pagar os estragos que fez durante estes meses. Quem vai pagar a despesa da pintura? A luz não funciona, está tudo escuro, estou em crer que estragou a rede elétrica. Já agora, não devia ter colocado a música tão alta. Andou a dar-me música estes meses todos e eu a pensar que era um bom inquilino. 


Tudo isto me leva a pedir-lhe que arrume tudo o que tem, música, sofá, cama, objetos e saia imediatamente. Aproveite e leve também os seus sonhos e as promessas de pagamento de rendas em atraso. Leve tudo e se um dia pensar em voltar, certifique-se que vai conseguir pagar a renda. Prometo não cobrar-lhe os juros mas pelos menos pague o que é devido, o que é justo. Afinal, creio não ter falhado como senhoria.

Assim que sair encoste só a porta, pelo barulho ensurdecedor que ouvi no outro dia já não deve fechar muito bem. É a primeira coisa que vou fazer quando sair, compor a porta, aproveito e mudo-lhe a fechadura. Sabe, apetecia-me vender este “espaço” confortável, confesso, mas não posso viver sem ele, afinal é ele quem bombeia o meu sangue e me permite estar aqui. Talvez o próximo inquilino seja mais cuidoso. Para já, fica em manutenção.


Obrigada! 

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